“O
ser humano é estômago e sexo”. E hipocrisia. Meu conceito de hipocrisia é:
quando se critica uma determinada ação apenas em um momento específico, e
quando essa ação é repetida em outro contexto, geralmente beneficiando ou
agradando a pessoa que antes tinha criticado, a ação passa a ser permitida ou
não ser criticada.
Exemplo 1: Ficar puto ao ver a pia
da cozinha cheia de pratos sujos deixados por outra pessoa. Nem lembrar que
você não varre a casa há mais de um mês.
Por
trás de toda hipocrisia sempre há tentativas de se justificar.
Exemplo 2: A pia suja junta insetos
nojentos e espalha um mal-cheiro. O chão empoeirado só suja o pé e provoca um
espirro aqui e outro ali.
Nem toda
justificativa é falsa. E nenhuma justificativa é à toa. O ser hipócrita não é
hipócrita porque quer sê-lo, mas sim porque sofreu influências sociais e
biológicas para tal. A social reside naquilo que é comum, como poder beber
cerveja em plena luz do dia na calçada de sua casa alterando seu estado de
consciência, mas não poder fazer o mesmo com um cigarro de maconha (ou pelo
menos não com a mesma aceitação).
A
influência biológica consiste principalmente do nosso egoísmo. Não sei onde
está a origem dele, mas não há comportamento mais dominante na vida do que o comportamento
egoísta. O ser humano consegue piorar, pois não é egoísta apenas para
sobreviver e replicar sua espécie, mas também para demonstrar poder. Ciúmes,
inveja, aquela sensação de que seu aniversário sempre é mais especial do que o
do outro. Até numa conversa, quando o que ocorre não é exatamente uma troca de ideias,
mas sim uma espera constante para que o outro termine de falar e você exponha
SUA opinião, contar a SUA história engraçada e expor SEUS ótimos argumentos.
Ninguém é
livre de hipocrisias (nem quem escreve falando de hipocrisia), assim como
ninguém é livre de preconceitos. Surgem meio que automaticamente e para se
livrar deles, é necessária autorrevisão periódica de consciência e honestidade
de pensamento. Não é impossível, mas também não me diga que é fácil.
Às vezes se
tem uma atitude hipócrita conscientemente. Como uma gerente feminista de banco
privado, que apoia a causa, mas acha um absurdo uma mulher ir à marcha das
vadias, pintar o corpo e permitir ter sua foto divulgada na internet. Pois se
ela fizesse isso, como conseguiria manter seu emprego? A ideologia é bonita e
importante, mas não paga a escola dos filhos. Essa pessoa é hipócrita?
Ser
comunista e ter um apartamento na beira-mar. Dar sugestões de administração
pública em escala nacional e não conseguir administrar a própria casa, ou pior,
não administrar a própria mesada. Isso sim é hipocrisia concreta e estereotipada.
Se fosse
para eleger um hipócrita-mor, apesar das muitas opções, eu diria que é aquele
que “não liga para o que os outros pensam dele”. Afirmar isso e passar 2 horas
escolhendo uma roupa e se maquiando para sair é um paradoxo brutal. Em teoria,
ou a pessoa sairia vestida de qualquer jeito ou ficaria igualmente bem
produzida em pleno domingo à tarde sozinha em casa. Essas pessoas dizem que “falam
o que pensam sempre”, por isso é tão insuportável conversar com elas. Pois são
ditadores, que consideram seu sistema de ideias tão importante ao ponto de ser
vomitado e querer enfiá-lo nas cabeças alheias.
Você pode
ser fiel às suas ideias e mesmo assim ter algumas exceções. Não precisa pintar
a cara e sair gritando na rua, não precisa brigar com quem pensa diferente, não
precisa destruir o diferente. Aquele que admite os filtros que utiliza para
conseguir uma boa convivência pode ser considerado hipócrita por muitas
pessoas, mas certamente é menos hipócrita do que aquele que nega isso, o que se
diz cristalinamente transparente, mas é tão opaco quanto qualquer parede de
cimento sem pintura.
Um comentário:
Poucas pessoas poderiam falar de hipocrisia com tanta propriedade.
Postar um comentário