11 de agosto de 2012

Viajando na Hipocrisia


            “O ser humano é estômago e sexo”. E hipocrisia. Meu conceito de hipocrisia é: quando se critica uma determinada ação apenas em um momento específico, e quando essa ação é repetida em outro contexto, geralmente beneficiando ou agradando a pessoa que antes tinha criticado, a ação passa a ser permitida ou não ser criticada.

Exemplo 1: Ficar puto ao ver a pia da cozinha cheia de pratos sujos deixados por outra pessoa. Nem lembrar que você não varre a casa há mais de um mês.

            Por trás de toda hipocrisia sempre há tentativas de se justificar.

Exemplo 2: A pia suja junta insetos nojentos e espalha um mal-cheiro. O chão empoeirado só suja o pé e provoca um espirro aqui e outro ali.

Nem toda justificativa é falsa. E nenhuma justificativa é à toa. O ser hipócrita não é hipócrita porque quer sê-lo, mas sim porque sofreu influências sociais e biológicas para tal. A social reside naquilo que é comum, como poder beber cerveja em plena luz do dia na calçada de sua casa alterando seu estado de consciência, mas não poder fazer o mesmo com um cigarro de maconha (ou pelo menos não com a mesma aceitação).
A influência biológica consiste principalmente do nosso egoísmo. Não sei onde está a origem dele, mas não há comportamento mais dominante na vida do que o comportamento egoísta. O ser humano consegue piorar, pois não é egoísta apenas para sobreviver e replicar sua espécie, mas também para demonstrar poder. Ciúmes, inveja, aquela sensação de que seu aniversário sempre é mais especial do que o do outro. Até numa conversa, quando o que ocorre não é exatamente uma troca de ideias, mas sim uma espera constante para que o outro termine de falar e você exponha SUA opinião, contar a SUA história engraçada e expor SEUS ótimos argumentos.
Ninguém é livre de hipocrisias (nem quem escreve falando de hipocrisia), assim como ninguém é livre de preconceitos. Surgem meio que automaticamente e para se livrar deles, é necessária autorrevisão periódica de consciência e honestidade de pensamento. Não é impossível, mas também não me diga que é fácil.
Às vezes se tem uma atitude hipócrita conscientemente. Como uma gerente feminista de banco privado, que apoia a causa, mas acha um absurdo uma mulher ir à marcha das vadias, pintar o corpo e permitir ter sua foto divulgada na internet. Pois se ela fizesse isso, como conseguiria manter seu emprego? A ideologia é bonita e importante, mas não paga a escola dos filhos. Essa pessoa é hipócrita?
Ser comunista e ter um apartamento na beira-mar. Dar sugestões de administração pública em escala nacional e não conseguir administrar a própria casa, ou pior, não administrar a própria mesada. Isso sim é hipocrisia concreta e estereotipada.
Se fosse para eleger um hipócrita-mor, apesar das muitas opções, eu diria que é aquele que “não liga para o que os outros pensam dele”. Afirmar isso e passar 2 horas escolhendo uma roupa e se maquiando para sair é um paradoxo brutal. Em teoria, ou a pessoa sairia vestida de qualquer jeito ou ficaria igualmente bem produzida em pleno domingo à tarde sozinha em casa. Essas pessoas dizem que “falam o que pensam sempre”, por isso é tão insuportável conversar com elas. Pois são ditadores, que consideram seu sistema de ideias tão importante ao ponto de ser vomitado e querer enfiá-lo nas cabeças alheias.
Você pode ser fiel às suas ideias e mesmo assim ter algumas exceções. Não precisa pintar a cara e sair gritando na rua, não precisa brigar com quem pensa diferente, não precisa destruir o diferente. Aquele que admite os filtros que utiliza para conseguir uma boa convivência pode ser considerado hipócrita por muitas pessoas, mas certamente é menos hipócrita do que aquele que nega isso, o que se diz cristalinamente transparente, mas é tão opaco quanto qualquer parede de cimento sem pintura.

Um comentário:

beca disse...

Poucas pessoas poderiam falar de hipocrisia com tanta propriedade.